quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

NÃO QUERO TE VER LUAN

Eu a esperava no altar e a olhava vindo até mim, com um sorriso lindo em seus lábios, com um olhor marejado, me deixou com o coração quase nas mãos, eu a esperava, sempre esperaria. A mulher da minha vida caminhava até mim, caminhava até ao nosso amor. E quando o seu pai lhe entregou para mim, apertei sua mão com toda a minha força e deixei um beijo em sua testa.

Tivemos uma cerimonia belíssima, que nos emocionou bastante. Era tanto amor envolvido entre ambos e tantas bênção de Deus, que até esquecemos dos problemas que estávamos passando em relação a saúde da Larissa.

Após a cerimonia seguimos para a recepção dos convidados, onde cumprimentamos cada um deles com a maior felicidade que sentíamos, todas aquelas pessoas foram testemunha do nosso amor diante a palavra que o Padre nos disse. Durante a festa de recepção nos divertimos bastante, o tempo todo a Larissa sorria, o tempo todo ela me olhava, com aquele olhar apaixonado o qual eu sempre fui encantado.

- Eu te amo demais, meu amor - com a testa encostada na dela, olhava em seus olhos e expressava o meu sentimento por ela. - Obrigado por ter aceitado ser a minha mulher, eu prometo que vou te amar sempre.

- Eu sei que vai, meu anjinho - senti seus lábios em meu nariz. - Você quer ter outro filho, quando o Henry completar um aninho ?

- Já pensando em outro filho ? - perguntei rindo.

- (risos) Pior que estou ! Deu vontade de sentir o bebê mexendo na barriga, sabe ?

- Eu topo fazer outro filho com você, topo criar esse filho com você, topo tudo, meu amor. Quer fazer agora ? - pergunte rindo passando minha mão por seu rosto.

- Bobo ! Por enquanto vamos usar camisinha e eu tomar a pílula.

- Não foi proibido por causa do problema ? - apontei para sua cabeça.

- Por enquanto ! Esquece isso, Luan.

- Não tem como, Lari. Temos que ir para o hospital... - olhei em meu relógio. - Daqui a pouco. Você tem que se operar antes que te dê alguma coisa.

- Eu estou bem, vamos chegar na hora de fazer a cirurgia. E vou chegar muito feliz, então vamos aproveitar enquanto temos tempo ?

Não falei nada, apenas lhe beijei em resposta. Após tantos beijos desapareci por um instante, iria terminar as últimas palavras do meu voto. Um tempo depois voltei para o centro do salão chamando atenção de todos. Olhei algumas vezes para o papel rabiscado em minhas mãos, mas eu tinha algo mais forte para lhe falar.


- Deixa pra lá, não vou ler isso aqui. Vou dizer tudo o que está guardado aqui dentro do meu coração - joguei o papel e todos riram, segurei a sua mão e olhei em seus olhos para que ela pudesse sentir o que eu queria lhe passar. - Amor, minha Larissinha, eu quero te dizer que... eu quero estar sempre ao teu lado. E quero que saiba que quando você ficar sem chão, eu vou estar aqui para segurar sua mão. Quando você achar que tudo acabou eu vou estar aqui para te mostrar um novo recomeço, quando chorar, eu vou estar aqui para te fazer sorrir, eu prometi isso não é ? - ela afirmou após enxugar sua lágrima. - Quando achar que não tem ninguém, eu vou estar aqui para te mostrar que mesmo não sendo muito, você me tem. Quando quiser desistir, eu vou estar aqui para te mostrar todos os motivos pelo qual deve continuar. E quando achar que vai morrer... - senti sua mão apertar ainda mais a minha. - Eu vou estar aqui para te mostrar o lado bom da vida, quando tiver medo, vou estar aqui pra te proteger e cuidar de você. Não importa o que faça, não importa a distância, não importa as dificuldade, eu sempre vou estar ao seu lado, sempre, meu amor.


O rosto da Larissa foi perdendo o sorriso, suas mãos iam se soltando aos pouco da minha e ela foi caindo em um desmaio, caiu em meus braços totalmente apagada. O meu desespero foi grande ao ver a minha esposa daquele jeito, eu sabia que poderia acontecer algo grave a qualquer momento, eu só não estava preparado.

- Larissa ! - sentei no chão colocando ela em meu colo. Os seus pais se aproximaram desesperado, enquanto o meu pai ligava para uma ambulância.

- Filha, filhinha. Acorda, meu amor - a sua mãe dizia segurando sua mão.

- Amor, não faz isso - senti um desespero tremendo dentro de mim. - Acorda !

- Já liguei para a ambulância, estão vindo.

- Ela não vai aguentar pai. Eu levo ela, eu levo - coloquei a Larissa em meu colo e sai andando até o primeiro carro que eu encontrasse.

- Filho, não ! Você não vai sair assim.

- E eu não vou deixar minha mulher morrer. Ela desmaiou e se tiver agravado ainda mais o caso dela ? Seu Pedro, liga para o médico dela, diz que estamos indo para o hospital agora.

- Luan, é muito longe daqui pra lá filho.

- Faz alguma coisa gente - sentei no gramado com a Larissa em meus braços, a sua mãe trouxe álcool para que ela pudesse acordar, mas não dava resultado. - Larissa, responde por favor. Meu Deus !

A ambulância que tínhamos pedido demorou para chegar, portanto não esperei, coloquei a Larissa dentro do carro do seu pai e pedi que levássemos ela para o hospital que seria o seu tratamento. Até lá a Larissa não acordou, mas tinha pulso. Demorou cerca de uma hora para que chegassemos ao hospital e como tínhamos falado com o seu médico ele já o esperava.

- O que aconteceu com ela ?

- Doutor, a gente estava na  recepção do casamento. Quando eu acabei de falar com ela, desmaiou em meus braços. E não acorda desde de lá.

- Talvez ela tenha entrado em coma. Vamos examiná-la.

Não deixaram que eu entrasse na sala a qual levaram ela. Mas fiquei em uma salinha reserva com o Pedro, Laura e os meus pais. A aflição era grande, todo tempo ia em uma enfermeira e pedia que eu fosse a procura de informações da minha mulher, mas ela sempre dizia que não tinha nenhuma informação sobre ela. Uma hora de espera, já tinha tirado o meu terno e minha gravatá.


- Família da Larissa Alves ? - perguntou uma assistente social com o seu prontuário.

- Somos ! - levantei apressado. - Como ela está ?

- Já está na sala de cirurgia. Eu peço que vão para casa descansar, porque vai demorar muito. E quando voltar tragam roupa, produtos de higiene.

- Vai demorar quanto tempo ? - perguntou Dona Laura.

- Umas 10 horas. É um procedimento muito delicado, principalmente no caso dela, tinha tomado todo o cerébro e ela entrou em coma. Os médicos estão tentando reverter isso e fazer com que ela acorde logo após a cirurgia.

- Meu Deus ! Ela vai acordar, vai lembrar da gente ? Vai lembrar do casamento ?

- A Larissa pode acordar lembrando de tudo, mas também pode acordar sem lembrar de nada. Mas com o tempo as lembranças vão voltando. Não se preocupem. Peço que vão para casa. Ligamos se ela sair antes da sala de cirurgia.

- Vamos, Luan - disse o seu pai.

- Não queria ir embora. Tiraram o vestido dela ?

- Tiramos ! Vou pegar para vocês levar.

- Tudo bem !

- Com licença.


A enfermeira buscou o vestido de noiva e pediu que fossemos para casa. Não iria guardar o que estava sentindo, por isso coloquei para a fora tudo o que estava guardado dentro do meu peito. Chorei como se eu fosse um recém nascido, não queria perdê-la, não queria que ela esquecesse dos nossos momentos, do nosso casamento e principalmente do nosso filho. Portanto, entrei na casa dos meus pais rezando, pedindo a proteção da minha mulher, pedindo que ela acordasse e que lembrasse de tudo.

As últimas horas foram as piores. Não conseguia descansar, não conseguia tirar a roupa que estava mais cedo, apenas ficava abraçado com o vestido, pensando em como ela estava. Foi então que a minha mãe apareceu na porta do meu quarto, me chamando para ir até a sala.

- O que foi, mãe ? Fala logo !

- Ela acordou e eles estão pedindo para irmos.

- Ela lembrou ?

- Não falaram nada. Apenas pediram para irmos. Vamos ? Os pais da Larissa estão levando as coisas dela. Toma um banho, tira essa roupa filho.

Fiz o que a minha mãe pediu, tomei um banho rápido e coloquei uma outra roupa. Os meus pais me levaram até o hospital a qual fomos recebidos pelo os médicos que tinha operado a Larissa e pelo os seus pais. Eles estavam com uma aparência boa. E eu pedia em pensamentos que todas as notícias também fossem boas.


- Oi tudo bem com vocês ? Descansaram ? - perguntou uma enfermeira simpática.

- Descansamos. E as notícias ? - perguntei.

- A Larissa acordou antes do esperado do médico. E isso é muito bom. Tivemos que raspar a cabeça dela e uma psicóloga daqui a pouco vai até o quarto dela, porque sabemos o quanto é vaidosa e aí precisa de um acompanhamento para que ela não entre em depressão.

- Raspou ? - perguntou a mãe dela. - Meu Deus ! Será que eu posso conversar com ela ? A Larissa sempre me ouve.

- A mãe dela é uma boa psicóloga - disse.

- Então eu irei entrar com a senhora. Vocês conversam e depois entra os outros de um em um. Tudo bem ? - concordamos. - Vamos !

A Dona Laura ficou muito tempo dentro do quarto da filha e quando sai ficou um pouco na porta e começou a chorar. Seu Pedro foi até ela perguntando o que tinha acontecido, ela caminhou até mim e me deu um abraço apertado.

- O que foi, pelo amor de Deus ? - abracei forte.

- Ela disse que não quer te ver.

- Não quer o que ? - afastei minha sogra e lhe olhei chorando.

- Ela raspou a cabeça e disse que não quer te ver enquanto o cabelo dela não crescer.

- Deixa eu tentar falar com ela ?

- Não, Luan. A Larissa pode ficar agitada, deixa passar um tempo.

- Eu casei com ela hoje e a gente não pode ser por causa de um cabelo ? Não ! Eu vou lá sim - fui até o quarto da Larissa, bati e abri a porta.

- Luan, por favor - disse a enfermeira.

- Não deixa ele entrar !

- Amor ! Eu não ligo pra isso. Para de coisa, por favor ? Não foi o seu cabelo que me conquistou, Larissa. Eu te amo demais pra perceber isso. Posso entrar ?

Ela estava com o rosto coberto pelo o lençol do hospital e foi tirando aos poucos e me olhou chorosa. Entrei no quarto e fui até a minha esposa, segurando a sua mão e beijando.

- Que susto, meu amor.

- Luan, eu não quero que você me veja assim. Vai embora, por favor.

- Não me pede isso, Larissa. Olha só, eu fiquei desesperado lá fora quando me falaram que você não lembraria de mim, não lembraria do casamento.

- Falaram isso ?

- Vou deixá-lo a sós - disse a enfermeira.

- Sim, isso poderia acontecer quando você acordasse. Mas que bom que... - peguei uma cadeira e sentei ao seu lado. - Que bom que você acordou e lembrou de tudo. Você lembra não é ? Do nosso casamento ? Nosso filho ?

- Lembro, lembro sim. Como esquecer isso ? Acho que nem se tirasse a minha memória eu esqueceria. Eu te amo demais, meu amor - levou a minha mão até sua boca.

- Olha só não fica pensando no seu cabelo, certo ? Pensa em ficar boa e sair logo daqui. Pensa em agradecer a Deus por ter dado tudo certo, por termos casado como você queria, por termos o nosso filho. Por tudo ! Seu cabelo é o de menos, vai crescer logo.

- Eu espero !

- Claro que vai.


Sai para os meus pais e o seu pai ver a Larissa e depois entrei ficando mais um tempo com ela. Alguém tinha que fica por ali, mas não me deixaram pois ela iria tomar banho em algumas horas.

- Uai, tenho vergonha dele não gente. O Luan já me deu banho algumas vezes - disse maliciosa e todos riram. - Mas é bom minha mãe ficar aqui hoje, amor. Vai lá, dorme e amanhã vem aqui, certo ?

- Tudo bem, meu amor. Fica bem - beijei sua testa e ia saindo do quarto.

- Eii ! Volta aqui, eu quero um beijo do meu marido - fui até ela e a beijei fazendo as enfermeiras baterem palmas. - Gente, eu amo demais esse homem. E amor, quando eu sair daqui a gente vai ter uma lua de mel muito boa.

- (risos) Vai descansar. Qualquer coisa liguem pra mim, certo ? Boa noite para vocês.


Fui para casa e levei o meu filho para dormir comigo. Ficamos em claro, ele se divertia com a minha barba, as vezes puxava e começava a rir quando eu fazia careta. Fiquei admirando o meu filho durante a noite toda, ele adormeceu, acordou e pediu o leite, depois adormeceu de novo e assim eu cai no sono ao seu lado também, quando já amanhecia

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