quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

UMA PARADA RESPIRATÓRIA

Acordei com o chorinho do Henry ao meu lado e ao abrir os olhos o encontrei com um dedo na boca, chupando e chorando muito, ele nunca tinha feito aquilo de colocar o dedo na boca, talvez sentiu a falta de mamar e da Larissa também. Balancei de um lado para o outro, tentando acalmá-lo e conversava.

- Bom dia, meu filhinho - beijei seu rostinho - Calma, meu amor. Saudades da mamãe, não é ? Também estou morrendo de saudades dela - o coloquei mais perto de mim e abracei de leve. - Vai demorar um pouco para ela voltar, mas ela vai voltar e vai cuidar muito de você ainda, vai cuidar da gente.

Ele não se acalmou, então o peguei e sai do quarto indo até a minha mãe que estava conversando com uma amiga no telefone e ao me ver com o neto, logo se despediu da amiga e abriu aquele lindo sorriso vindo em nossa direção.

- Meus dois amores, dormiram bem ? - perguntou ela beijando o neto.

- O Henry acordou, dormiu e ficou nessa até cair de vez no sono. E acordou chorando muito, o que será que ele tem ?

- Saudades da mamãe dele e também sente fome. Me dá ele aqui, vai tomar um banho filho, vai visitar a Larissa hoje ?

- Vou sim e quero levar flores para ela, muitas flores, quero que ela se sinta bem naquele lugar e pertinho de mim quando eu não estiver e também pertinho do Henry.

- Viaja hoje ?

- Hoje a noite. Quero ficar com ela o dia todo, mãe.

- Toma um banho, come alguma coisa, descansa um pouquinho e depois eu te levo.

- Beleza ! Onde está meu pai ?

- No escritório

Fiz o que minha mãe pediu enquanto ela cuidava do Henry e tentava acalmá-lo, segundos depois já não ouvi o choro dele. Quando já estava saindo de casa para visitar a minha esposa, Dona Laura me ligava avisando que a Larissa tinha acabado de ter uma parada respiratória.

- É isso mesmo que você ouviu, Luan ?  - perguntou a minha mãe sem acreditar.

- É, mãe. Pelo amor de Deus, me leva, por favor, me leva lá.


Seguimos para o hospital e deixamos o Henry com a nossa empregada de confiança. Ao chegarmos no hospital encontrei o meu sogro que estava chorando abraçado ao filho e ao ver aquela cena o meu coração disparou como bala ao acertar o seu alvo.

- Porque vocês estão assim ? - perguntei.

- A Larissa não está bem, Luan. A minha filha pode morrer - ele chorava.

- Morrer ? Ela estava ótima ontem, como assim ela pode morrer ? Não !


Deixei todos na sala de espera e invadi o lugar o qual ela estava, os médicos me mandavam sair, as enfermeiras tentavam me impedir de entrar no quarto, mas eu não conseguia ficar quieto, eu queria entrar e ver como a minha esposa estava.

- Deixa eu ver ela por favor ? Não me tira isso !


De tanto pedir acabaram me deixando entrar. A Larissa usava um tubo para que pudesse respirar melhor, estava sedada e continuaria assim até a sua respiração voltar ao normal. Sua mãe apareceu no quarto com um copo de água e chorando muito.

- Toma isso aqui, Lua.

- Como... porque ela entrou nisso ? - perguntei sem tirar os olhos da Larissa.

- Iremos fazer alguns exames. Mas não se desesperem, ela não vai morrer.

- Será que não vai mesmo ? Cheia de tubo - disse olhando para a enfermeira que tentava me acalmar com aquela notícia.

- Está sem esperança, Luan ? - perguntou Laura.

Sentei em uma poltrona que tinha ao lado da cama da Larissa, peguei em sua mão e senti os meus olhos arderem.

- Não queria vê-la assim. Queria que tudo isso fosse em mim, porque eu não suporto ver a Larissa desse jeito - beijei sua mão. - Meu amor, saí dessa por favor. Luta, luta muito, não desiste. Luta por nós, por seu filho, pela a sua família. Luta.

- Ela é forte, Luan. Não perca as esperanças na Larissa. Eu confio nela e sei que vai sair dessa rápido.


Não pude acompanhar os exames que a Larissa iria fazer, ela ficaria sozinha naquela UTI e passaria por uma bateria de exames, enquanto estava sedada. Fiquei na sala de espera, mas tive que ir embora no final da tarde quando já estava dando a minha hora de ir para uma cidade próxima de São Paulo. Teria que prosseguir meus compromissos, mesmo sabendo que não iria conseguir cantar nada naquela noite.


- Ei, cara ! Sinto muito pelo o que aconteceu, viu ? - disse o Roberval ao me ver no aeroporto, onde esperávamos o nosso piloto para decolar. - Ela vai sair dessa !

- Vai sim... Rober - coloquei a mão em seu ombro. - Coloca ela em tuas orações, por favor. Eu sei que Deus me escuta, mas eu preciso de mais gente pedindo por ela. A Larissa é tudo pra mim.

- Claro que eu faço isso, ela já está em minhas orações. Consegue cantar hoje ?

- Vou tentar - olhei para o céu e respirei fundo.


Entramos no jatinho assim que os dois piloto chegaram, fomos todos em silêncio. Chegamos na cidade do show, atendi alguns fãs no aeroporto e outros no camarim. Fizemos uma oração onde colocamos o nome da Larissa. Nos preparamos e fomos doar alegria para as pessoas que nos esperava com tanta ansiedade.
E como eu já imaginava não consegui concluir o show. Cantamos apenas 40 minutos e eu não conseguia mais ficar em pé naquele palco, me despedi de todos que tinham aguardado ali e cantado as músicas, pedi desculpas e me retirei do palco após concluir aquele pequeno show. O contratante logo se aproximou enfurecido.

- Não vou pagar os outros 50% , eu quis um show completo, a cidade inteira esperava por você, as meninas aqui estavam desde ás 06 horas da manhã te esperando e você canta só isso ? Volta para o palco !

- Desculpa, eu...

- Ele não vai voltar, porque ele está passando por um problema pessoal e não consegue continuar com o show. Infelizmente. Nos desculpem, estamos indo - disse o Roberval, não deixando com que eu falasse.

- Eu vou espalhar isso para a imprensa - o contratante se irritava cada vez mais.

- O senhor também já passou por problemas pessoais, não foi ? - Roberval continuava a bater de frente com o contratante.

- Claro, mas se eu não fazia os meus compromissos eu avisava antes. Tínhamos cancelado esse show, o cachê dele é uma fortuna e eu perdi meu dinheiro todo o chamando para cá. Um artista exigente, faz o que ele achar melhor pra si mesmo.

- Licença, deixa eu falar com ele, Roberval - tentava passar entre o Wellington e o Roberval, mas eles não me deixavam. - Deixa eu falar com ele, cara.

- Deixa, deixa ele falar, Rober - disse o Tom.

- Licença ! Como é o seu nome ?

- Augusto

- Oi Augusto - estendi a minha mão para que ele apertasse e mesmo demorando acabou apertando. - Eu estava muito ansioso para vim aqui e fazer o show de verdade, por isso que o meu escritório não ligou cancelando. Se você não sabe, eu casei há 24 horas, a minha mulher desmaiou nos meus braços...

- Luan, não precisa dizer isso, vamos embora - pedia o Roberval.

- Ele tem todo o direito de saber porque eu não quis mais cantar - tirei as mãos do Roberval do meu peito e continuei explicando. - Não estou dizendo isso para que você fique com pena de mim, eu não quero  que sinta isso. Mas continuando... Eu me casei há 24 horas, a minha mulher desmaiou em meus braços, levamos ela para o hospital e a aneurisma dela estourou... E quando eu já estava preparado para vim fazer o show, ela teve uma parada respiratória. Como...

- Luan, tinha que ter...

- Me escuta ! Como é que eu vou conseguir fazer um show, com a minha mulher em um hospital, cheia de tubo e que pode morrer a qualquer momento e eu não estava ali com ela. Me diz aí ? Você conseguiria fazer isso ? Porque eu não consigo cara. Pega o dinheiro que você investiu em mim para esse show e doa, faz uma doação para um hospital. Você vai se sentir melhor - bati em seu braço.

- Vamos ! - disse Wellington.

- Espero encontrá-lo em breve.

- Melhoras para sua mulher.

- Obrigado, cara.

Em passos largos fui para a van e fomos direto para o aeroporto como eu tinha pedido, queria voltar para o hospital e ficar ali até a Larissa sair daquele tubo, voltar a falar comigo e voltar a ser como antes.

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