quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

O TEMPO PASSOU

Ainda de madrugada segui para a casa dos meus sogros, sabia que estavam dormindo, mas eu queria ficar ali com o meu filho, já que a mãe da Larissa o pegou em minha casa. Wellington saiu do carro e foi até a porta onde tocou na campanhia, as luzes da sala estava acesa, apesar das cortinas tamparem a visão, dava para ver a claridade, com certeza alguém acordado. Demoraram um pouco até que abriram a porta, pude ver de longe que era o meu cunhado, o Lucas.

- Tem certeza que vai ficar aqui ? - perguntou o meu pai, ele quem tinha ido nos buscar. - A gente pode vim amanhã, Luan.

- Não, pai. Eu vou ficar aqui - disse saindo do carro. - Diz a minha mãe que amanhã a a tarde eu vou em casa, não precisa se preocupar comigo. Vou ficar com a mala aqui.

- Qualquer coisa liga, filho.

- Beleza ! - ia saindo do carro quando lembrei de algo e voltei. - Amanhã vem com o meu carro ?

- Vai amanhã para o hospital com o seu carro ?

- Vou sim, vem com ele.

- Certo !


Me despedi do meu pai e fui até o Wellington que conversava com o Lucas na porta. Ao me ver me cumprimentou com um aperto de mão e logo pegou a minha mala.

- BOI ! - gritou o Roberval do carro, ele tinha acabado de acordar.

- Oi ?

- Amanhã posso ir com você no hospital ?

- Lógico ! Vem com o meu pai amanhã, vamos juntos.

- Beleza ! Boa noite.


Eles foram embora e eu entrei na casa, a televisão estava ligada em pausa. Lucas levou a minha mala para o quarto da Larissa enquanto fiquei na sala, tirando meu tênis e relaxando um pouco. E foi então que percebi que aquela casa sem ela não era a mesma, na verdade todos os lugares sem ela não era a mesma coisa. Com certeza ao chegar ali e a Larissa estivesse, eu seria recebido com tanto carinho e beijos.

Ouvi passos se aproximando e olhei para a escada, já imaginando que seria ela que iria descer ali com o nosso filho, toda sorridente, mas não era. A Michele estava com o Henry em seus braços e ao seu lado o Lucas que segurava uma manta do meu filho.


- Ué, fazendo o que aqui ?

- Vim ficar com o Lucas e o Henry. A mãe da Larissa foi para o hospital há uns 10 minutos atrás. Como você está ? - me perguntou sentando ao meu lado.

- Não muito bem, mas estou bem. O que aconteceu com a Larissa ?

- Ela voltou a respirar normal, avisaram e os pais dela foram para lá. Quer pegá-lo ?

- Quero sim - sorri para o meu filho que estava cochilando nos braços da tia postiça, o peguei em meus braços e coloquei deitado, balançando de um lado para o outro. - Ele deu trabalho para você ?

- Meu afilhado não dá trabalho, não.

- (risos) Esqueci que ele é seu afilhado.

- Claro que é... Sou madrinha do seu casamento, sou madrinha do seu filho. Sou da família, bebê. Tem que me aguentar.

- (risos) A gente te aguenta, não é filho ? Vamos dormir.

- Pode ir dormir no quarto da Larissa, vou para o quarto do Lucas.


Estranhei ela falar aquilo e olhei dela para o Lucas, os dois começaram a rir e eu não acreditei no que estava passando pela a minha cabeça.

- Sério ?

- O que ? - perguntou a Michele sem entender.

- O Luan está pensando que eu estou te pegando, Michele. Pirou !

- (risos) Sério que pensou isso ?

- É, vocês ficaram se olhando desconfiado. Estão se pegando ? Eu vou contar isso para a Larissa amanhã quando eu for no hospital.

- Não estamos se pegando, cara. Que maluco ! Acha que eu vou pegar a amiga da minha irmã ? A Michele ? - começou a rir e ela bateu em seu braço.

- Eu dou um caldo, tá ?

- Você é praticamente minha irmã, Michele. É disso que eu falo.

- É bom mesmo não se pegarem, eu conto para a Larissa e do jeito que ela é ciumenta, arranca o coro de vocês - olhei para o meu filho que tinha aberto os olhinhos. - Viu filho ? Está ferrado quando arrumar uma namoradinha. Sua mãe vai ficar no seu pé.

- (risos) Aquela ali depois que virou mãe, tem ciúmes de todo mundo.

- Ela já tinha antes, Lucas. Mas ela tem ciúmes por motivos óbvios, apesar de ser exagerada um pouquinho, ela tem que cuidar do que é dela - defendeu a amiga.

- E nós somos dela, ouviu isso ? - sacudi o meu filho de um lado para o outro, o que lhe fez rir. - Isso não é hora de ficar acordado, filho.

- Ei, Luan. Tem um povo revoltado aqui com você no instagram, cara. Aprontou o que dessa vez, cara ?

- É.. o que você aprontou mocinho ?

- Não consegui fazer o show. Pensei o tempo todo na Larissa, aquela cena dela entubada passava direto na minha cabeça, não consegui. E eu vou ter que explicar o porque que deixei o palco, mas eu não queria contar sobre a Larissa.

- Se você acha que é melhor não contar, estou contigo - disse meu cunhado.

- Vai descansar que amanhã vamos fazer uma visita especial para a Lari.

Michele me levou até o quarto da amiga, onde eu pude descansar um pouco ao lado do meu filho. Eu só pedia que as horas se passassem para que eu pudesse encontrar a minha mulher, beijá-la e dizer o quanto a amo. Consegui dormir tranquilamente, apesar do Henry acordar para tomar o seu leite e eu ter que trocar sua fraldinha, tudo foi normal o resto da noite.

Acordei com a Michele me chamando, ela dizia que o meu pai estava ali e os pais da Larissa tinham chegado, estavam conversando. Passei a mão do meu lado e não encontrei o meu filho, provavelmente a minha sogra tinha o pego. Fiz minhas higienes e fui até a sala onde estavam todos reunidos.

- Bom dia ! - sentei ao lado do meu pai.

- Sua mãe quase vinha te buscar.

- (risos) Imaginei que ela ficaria assim,

- Deveria ter ido para casa, Luan. Fica pouco com sua família - falou, Dona Laura.

- A minha irmã disse por mensagem que o Henry estava aqui, então vim ficar com ele. Foi bom pra mim, a noite passada foi terrível.

- Eu fiquei sabendo sobre o show. As pessoas estão te julgando sem saber o que você está passando - meu sogro segurou em meu ombro, enquanto estava em pé. - Já sabe o que vai fazer  ? Vai dizer o que a Larissa está passando.

- Vou pedir para o escritório liberar uma nota, mas não vamos dizer o que está acontecendo com a Larissa. Sabe como algumas pessoas são maldosas, nunca querem o bem dos outros - disse o meu pai, ele sabia bem os meus pensamentos.

- Eu concordo, é bom não expor assim o caso da Larissa. Acho que ela não iria gostar - afirmou o meu sogro.

- E como ela está ? - perguntei.

- Bem ! Não está mais entubada, continua sedada, provavelmente quando você estiver indo lá, ela já vai ter acordado. Ficou agitadinha ontem quando tirou o tubo, mas o resto está tranquilo, graças a Deus - minha sogra falou ao pegar o Henry dos braços da Michele.

- Graças a Deus. O Henry já comeu ? - perguntei.

- Já comeu, já arrotou. Agora vou banhá-lo e ele vai ficar com o titio - Michele disse.

- Deu trabalho, Luan ? - Dona Laura, perguntou.

- Deu nada, meu filho é calminho. Só acordou pra tomar o leite e trocar a fralda. Ele precisa de alguma coisa ? Quando a gente tiver voltando podemos passar em algum canto para comprar o que estiver faltando.

- Ele só precisa no momento da mamãe dele.

- Pai, cadê o testa ?

- Ficou no escritório, ele disse que vai nos encontrar no hospital. Vai passar em um floricultura, quer levar rosas para a Larissa.

- Será que pode levar ? - olhei para os meus sogros esperando uma resposta.

- Pode, deixamos flores no quarto dela ontem. A enfermeira disse que é muito bom, assim ela se sente mais leve ao acordar, vai se sentir feliz e não fica com depressão.

- Ela pode pegar uma depressão, não é ? Meu Deus ! - passei a mão incansavelmente por meus cabelos, em um ato desesperado. - Não sei porque estamos passando por isso. Tem horas que eu tenho vontade de gritar, meu coração está desesperado.

- Calma filho, vai dar tudo certo - meu pai tentava me consolar.


Realmente o desespero que eu sentia dentro de mim era terrível. Meu coração apertava me deixando louco por dentro, eu queria que desse certo, ela tinha que sair dessa situação, prometemos ficar juntos para sempre e assim seria.

- Vamos vê-la agora e aí você fica mais calmo - disse Michele.

Nos arrumamos e fomos para o hospital. Chegando lá, encontramos o Roberval com alguns buquês de flores, ele nos esperava na recepção. Acenei para algumas pessoas que falava comigo de longe, como as enfermeiras que me pediram fotos e atendi, mesmo não estando no clima.

- Ei, boi. Trouxe essa aqui que eu sei que você gosta de dar essas flores para ela - Roberval me entregava um buquê de flores, a qual eu sempre comprava para a Larissa em momentos especiais, apesar daquele momento não ser especial, mas eu queria que ela se sentisse especial.

Entramos em um corredor quando algumas pessoas que estavam aguardando na recepção, começaram a perceber que eu estava ali e queriam se aproximar, para a minha segurança e para não causar tumulto, nos colocaram em um corredor próximo do quarto da Larissa.

- Não podemos liberar essa quantidade de gente. Entra de três em três, por favor - disse a enfermeira chefe que estava cuidando da minha esposa.

Deixei com que o Roberval, Michele e o seu irmão entrassem primeiro, logo depois entraria eu e o meu pai para conversarmos com ela. Alguns minutos depois eles saíram do quarto sorrindo, pareciam felizes.

- Vai lá bonitão !

Entrei em seu quarto acompanhado do meu pai. Entrando ali, fiquei surpreso com tantas flores espalhadas pelo o quarto. E ao olhar para ela, a vi com um sorriso gigante no rosto, ela sorria para mim e tinha aqueles lindos olhos em mim. Coloquei as flores em um cantinho da mesa e fui até a minha esposa. O meu pai já tinha lhe cumprimentado e ficou feliz em vê-la com uma aparência boa.

- E aí meu amor ? Tudo certo com você ? - beijei sua testa.

- Estou me recuperando. Como você está ?

- Assustado com tudo isso.

- (risos) Imaginei ! Casei com você e agora estou morrendo - ela sorriu.

- Não fala isso, você não está morrendo.

- Me desculpa por ter casado com você e te deixar viúvo depois - Larissa achava graça no que dizia, mas o meu semblante era sério. - Ah, dá uma risadinha.

- Com piada desse tipo, não. É sem graça.

- Desculpa, meu amor - passou a mão por meu rosto.

- Se alimentou hoje ?

- Tomei meu café da manhã direitinho, comi tudo.

- Muito bem, tem que comer tudo.

- É papai, comi tudo.

- Acho que vou deixar vocês dois conversarem mais um pouco. Larissa, fico feliz em te ver bem, estou torcendo para que você saia daqui, vamos fazer um churrasco.

- Estou contando as horas para sair daqui.

- (risos) Vou indo, minha linda. Deus te dê a recuperação.

- Obrigada, Amarildo. Manda um beijo para a Bruna e a Marizete, peçam para ela vim aqui.

- Elas vão vim amanhã. Mas vou deixar teu recado amanhã.

- Muito bem !

O meu pai beijou a mão da minha esposa e logo saiu nos deixando a sós. Puxei uma cadeira para mais perto da sua cama, e passei suas mãos por meu rosto, ela logo abriu as mãos e acariciou enquanto eu estava de olhos fechados.

- Está cuidando direitinho do nosso filho ?

- Estou sim ! Ele sente sua falta.

- Estou morrendo de saudades dele. Cuida bem do Henry, ein ? Fala de mim para ela todos os dias, mostra uma foto minha, não quero que ele me estranhe quando eu voltar para casa.

- Quando estou com o Henry converso de você a cada quinze minutos, mostro sua foto, seus vídeos, mostro sua alegria, seu sorriso, seu olhar - beijei todo o seu braço até chegar perto do seu pescoço. - Saudades do seu cheirinho.

- (risos) Faz cócegas - ela se encolheu rindo. - E eu estou sem o meu cheirinho, estou com cheiro de hospital e com bafo. Quando será que eu vou ter alta ?

- Quando você estiver ainda melhor do que está hoje. E eu vou te beijar !

- Não ! Estou com bafo.

- Não importo, eu quero te beijar - beijei seu nariz e rocei meus lábios no dela. - Hmmm... meu amorzinho, vontade de ficar deitado aqui com você, bem agarradinho contigo.

- Não pode me abraçar forte, mas pode ficar aqui do meu ladinho.

Me agarrei ao seu lado e fiquei ali até a enfermeira dizer que já estava na hora de ir, ela tomaria um remédio e dormiria em seguida. Me despedi da Larissa com beijos e carinhos, fui até os outros que me esperaram bastante na recepção. Voltei para a casa, onde passei o dia com o meu filho. O escritório publicou uma nota em relação ao dia anterior, a confusão do show, mas não falaram o que tinha a Larissa. Fazendo as minhas fãs acharem que tínhamos rompido o nosso relacionamento.



( CINCO MESES DEPOIS )



Estava eu em casa me recuperando de uma cirurgia que raspou todo o meu cabelo, que me fez sentir inútil para o meu marido, simplesmente por causa de um cabelo. Pensei que ele iria me largar ao me ver em cima daquela cama de hospital, com a cabeça raspada e quase na beira da morte. Era muita coisa para o Luan aguentar, era muita pressão. Trabalho, viagem, filho e uma esposa vulnerável. E todas as vezes que ele ia me visitar, eu pedia em meio a lágrimas que me deixasse, que pedisse o divórcio, eu não queria vê-lo sofrendo, não queria sentir que eu estava acabando com ele. Mas o Luan não desistiu de mim, foi até o fim. E olhando agora para o homem da minha vida, cuidando do nosso filho que já está com seus oito meses, eu pude ter certeza que eu escolhi certo, que o meu coração escolheu certo a pessoa para que pudéssemos ser uma só carne.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

UMA PARADA RESPIRATÓRIA

Acordei com o chorinho do Henry ao meu lado e ao abrir os olhos o encontrei com um dedo na boca, chupando e chorando muito, ele nunca tinha feito aquilo de colocar o dedo na boca, talvez sentiu a falta de mamar e da Larissa também. Balancei de um lado para o outro, tentando acalmá-lo e conversava.

- Bom dia, meu filhinho - beijei seu rostinho - Calma, meu amor. Saudades da mamãe, não é ? Também estou morrendo de saudades dela - o coloquei mais perto de mim e abracei de leve. - Vai demorar um pouco para ela voltar, mas ela vai voltar e vai cuidar muito de você ainda, vai cuidar da gente.

Ele não se acalmou, então o peguei e sai do quarto indo até a minha mãe que estava conversando com uma amiga no telefone e ao me ver com o neto, logo se despediu da amiga e abriu aquele lindo sorriso vindo em nossa direção.

- Meus dois amores, dormiram bem ? - perguntou ela beijando o neto.

- O Henry acordou, dormiu e ficou nessa até cair de vez no sono. E acordou chorando muito, o que será que ele tem ?

- Saudades da mamãe dele e também sente fome. Me dá ele aqui, vai tomar um banho filho, vai visitar a Larissa hoje ?

- Vou sim e quero levar flores para ela, muitas flores, quero que ela se sinta bem naquele lugar e pertinho de mim quando eu não estiver e também pertinho do Henry.

- Viaja hoje ?

- Hoje a noite. Quero ficar com ela o dia todo, mãe.

- Toma um banho, come alguma coisa, descansa um pouquinho e depois eu te levo.

- Beleza ! Onde está meu pai ?

- No escritório

Fiz o que minha mãe pediu enquanto ela cuidava do Henry e tentava acalmá-lo, segundos depois já não ouvi o choro dele. Quando já estava saindo de casa para visitar a minha esposa, Dona Laura me ligava avisando que a Larissa tinha acabado de ter uma parada respiratória.

- É isso mesmo que você ouviu, Luan ?  - perguntou a minha mãe sem acreditar.

- É, mãe. Pelo amor de Deus, me leva, por favor, me leva lá.


Seguimos para o hospital e deixamos o Henry com a nossa empregada de confiança. Ao chegarmos no hospital encontrei o meu sogro que estava chorando abraçado ao filho e ao ver aquela cena o meu coração disparou como bala ao acertar o seu alvo.

- Porque vocês estão assim ? - perguntei.

- A Larissa não está bem, Luan. A minha filha pode morrer - ele chorava.

- Morrer ? Ela estava ótima ontem, como assim ela pode morrer ? Não !


Deixei todos na sala de espera e invadi o lugar o qual ela estava, os médicos me mandavam sair, as enfermeiras tentavam me impedir de entrar no quarto, mas eu não conseguia ficar quieto, eu queria entrar e ver como a minha esposa estava.

- Deixa eu ver ela por favor ? Não me tira isso !


De tanto pedir acabaram me deixando entrar. A Larissa usava um tubo para que pudesse respirar melhor, estava sedada e continuaria assim até a sua respiração voltar ao normal. Sua mãe apareceu no quarto com um copo de água e chorando muito.

- Toma isso aqui, Lua.

- Como... porque ela entrou nisso ? - perguntei sem tirar os olhos da Larissa.

- Iremos fazer alguns exames. Mas não se desesperem, ela não vai morrer.

- Será que não vai mesmo ? Cheia de tubo - disse olhando para a enfermeira que tentava me acalmar com aquela notícia.

- Está sem esperança, Luan ? - perguntou Laura.

Sentei em uma poltrona que tinha ao lado da cama da Larissa, peguei em sua mão e senti os meus olhos arderem.

- Não queria vê-la assim. Queria que tudo isso fosse em mim, porque eu não suporto ver a Larissa desse jeito - beijei sua mão. - Meu amor, saí dessa por favor. Luta, luta muito, não desiste. Luta por nós, por seu filho, pela a sua família. Luta.

- Ela é forte, Luan. Não perca as esperanças na Larissa. Eu confio nela e sei que vai sair dessa rápido.


Não pude acompanhar os exames que a Larissa iria fazer, ela ficaria sozinha naquela UTI e passaria por uma bateria de exames, enquanto estava sedada. Fiquei na sala de espera, mas tive que ir embora no final da tarde quando já estava dando a minha hora de ir para uma cidade próxima de São Paulo. Teria que prosseguir meus compromissos, mesmo sabendo que não iria conseguir cantar nada naquela noite.


- Ei, cara ! Sinto muito pelo o que aconteceu, viu ? - disse o Roberval ao me ver no aeroporto, onde esperávamos o nosso piloto para decolar. - Ela vai sair dessa !

- Vai sim... Rober - coloquei a mão em seu ombro. - Coloca ela em tuas orações, por favor. Eu sei que Deus me escuta, mas eu preciso de mais gente pedindo por ela. A Larissa é tudo pra mim.

- Claro que eu faço isso, ela já está em minhas orações. Consegue cantar hoje ?

- Vou tentar - olhei para o céu e respirei fundo.


Entramos no jatinho assim que os dois piloto chegaram, fomos todos em silêncio. Chegamos na cidade do show, atendi alguns fãs no aeroporto e outros no camarim. Fizemos uma oração onde colocamos o nome da Larissa. Nos preparamos e fomos doar alegria para as pessoas que nos esperava com tanta ansiedade.
E como eu já imaginava não consegui concluir o show. Cantamos apenas 40 minutos e eu não conseguia mais ficar em pé naquele palco, me despedi de todos que tinham aguardado ali e cantado as músicas, pedi desculpas e me retirei do palco após concluir aquele pequeno show. O contratante logo se aproximou enfurecido.

- Não vou pagar os outros 50% , eu quis um show completo, a cidade inteira esperava por você, as meninas aqui estavam desde ás 06 horas da manhã te esperando e você canta só isso ? Volta para o palco !

- Desculpa, eu...

- Ele não vai voltar, porque ele está passando por um problema pessoal e não consegue continuar com o show. Infelizmente. Nos desculpem, estamos indo - disse o Roberval, não deixando com que eu falasse.

- Eu vou espalhar isso para a imprensa - o contratante se irritava cada vez mais.

- O senhor também já passou por problemas pessoais, não foi ? - Roberval continuava a bater de frente com o contratante.

- Claro, mas se eu não fazia os meus compromissos eu avisava antes. Tínhamos cancelado esse show, o cachê dele é uma fortuna e eu perdi meu dinheiro todo o chamando para cá. Um artista exigente, faz o que ele achar melhor pra si mesmo.

- Licença, deixa eu falar com ele, Roberval - tentava passar entre o Wellington e o Roberval, mas eles não me deixavam. - Deixa eu falar com ele, cara.

- Deixa, deixa ele falar, Rober - disse o Tom.

- Licença ! Como é o seu nome ?

- Augusto

- Oi Augusto - estendi a minha mão para que ele apertasse e mesmo demorando acabou apertando. - Eu estava muito ansioso para vim aqui e fazer o show de verdade, por isso que o meu escritório não ligou cancelando. Se você não sabe, eu casei há 24 horas, a minha mulher desmaiou nos meus braços...

- Luan, não precisa dizer isso, vamos embora - pedia o Roberval.

- Ele tem todo o direito de saber porque eu não quis mais cantar - tirei as mãos do Roberval do meu peito e continuei explicando. - Não estou dizendo isso para que você fique com pena de mim, eu não quero  que sinta isso. Mas continuando... Eu me casei há 24 horas, a minha mulher desmaiou em meus braços, levamos ela para o hospital e a aneurisma dela estourou... E quando eu já estava preparado para vim fazer o show, ela teve uma parada respiratória. Como...

- Luan, tinha que ter...

- Me escuta ! Como é que eu vou conseguir fazer um show, com a minha mulher em um hospital, cheia de tubo e que pode morrer a qualquer momento e eu não estava ali com ela. Me diz aí ? Você conseguiria fazer isso ? Porque eu não consigo cara. Pega o dinheiro que você investiu em mim para esse show e doa, faz uma doação para um hospital. Você vai se sentir melhor - bati em seu braço.

- Vamos ! - disse Wellington.

- Espero encontrá-lo em breve.

- Melhoras para sua mulher.

- Obrigado, cara.

Em passos largos fui para a van e fomos direto para o aeroporto como eu tinha pedido, queria voltar para o hospital e ficar ali até a Larissa sair daquele tubo, voltar a falar comigo e voltar a ser como antes.